sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

NOSSOS VIZINHOS E HERMANOS

Um pouco de Buenos Aires, em quatro dias

Em janeiro, estive durante duas semanas visitando dois países, Argentina e Paraguai, vizinhos, e integrantes do Mercosul [Mercado Comum do Sul, bloco econômico criado em 1991 do qual participam também o Brasil, Uruguai, e mais recentemente, em 2006, a Venezuela]. A palavra Mercosul já está incluída nos novos passaportes emitidos no Brasil.


Nos quatro primeiros dias estive na Argentina. Assim que desembarquei no Aeroporto Internacional Ministro Pistarini, localizado no município de Ezeiza, a 30 minutos de Buenos Aires, comecei a acreditar realmente estar em outro país, minha primeira viagem internacional, depois de 1h30 de avião. A começar pelos veículos que estacionavam na entrada do aeroporto, cujas as marcas e modelos eram desconhecidos por mim no Brasil. Comecei a reparar as pessoas, a língua, e pensei que encontraria dificuldades em me comunicar, mesmo falando o mínimo de espanhol, e tal rapidez com o qual os argentinos conversavam, poderia me deixar confuso e perdido.


Me hospedei no centro de Buenos Aires num hotel de 4 estrelas, aparentemente antigo, mas que depois de algumas reformas, se tornou aconchegante. O prédio pequeno, de nove andares, fica nas esquinas das ruas Tucuman e Reconquista, esta também que dá o nome ao hotel. A rua Reconquista em muito lembrava as estreitas ruas do centro de São Paulo, como Direita e São Bento, mas bem mais conservada e organizada do que estas. Como cheguei num sábado, o movimento estava calmo, numa curiosa tranquilidade. Estava aberto apenas alguns restaurantes, dentre os muitos existentes a cada esquina da capital argentina.


Logo no táxi, pude ver de perto os cartões postais que eu só conhecia através da TV ou da internet. A avenida 9 de Julio, seria uma mistura das avenidas Paulista e Faria Lima, mas em maior extensão. As calçadas espaçosas e bem arborizadas e os milhares de letreiros, outdoor espalhados pela cidade me fizeram acreditar que realmente estava em outro país. Sou contra poluição visual, mas acho que esta Lei Cidade Limpa deveria ser um pouco mais branda e permitir a instalação de alguns letreiros, que poderiam deixar São Paulo tão charmosa quanto Buenos Aires.


Em falar em publicidade, muitos produtos vendidos aqui também são comercializados lá. Alguns com um nome bem diferente, como marcas de produtos de limpeza, sucos, sabão em pó. Não foi difícil me adaptar à língua. Ao assistir TV no hotel, consegui entender as propagandas e filmes legendados, como também os noticiários e programas de variedades. Outra curiosidade é ver um episódio do Chaves e do Chapolin, em espanhol, que pra mim era totalmente inédito no Brasil ou foi exibido quando eu ainda era bebê.

Ser patriota, para um argentino, é algo tão comum quanto sua paixão por futebol. Basta olhar cada janela de uma casa ou edifício comercial que logo entendemos que não basta ser Copa do Mundo para pendurar um bandeira nacional na janela. Mesmo que a flâmula esteja gasta pelo tempo, ela ainda resiste nas fachadas, seja no centro ou nos bairros mais afastados.



E por falar em futebol, pude ver a imponência do estádio La Bombonera, do Boca Juniors, time imortalizado pela figura do ídolo Diego Maradona, cuja a imagem está espalhada em quase todos os cantos de Buenos Aires. Localizado no bairro La Boca, famoso por abrigar o Caminito, uma rua-museu que abrigou espanhóis e italianos, cujas as casas foram pintadas de várias cores, utilizando tintas que sobraram da pintura de navios.






Puerto Madero é um centro financeiro, onde se investiu na gastronomia e lazer, e se tornou mais um dos pontos turísticos portenhos. Vários restaurantes e bares têm como vista o canal que tem na outra margem os prédios mais modernos da região. Uma atração bem conhecida é a Puente de la Mujer (Ponte da Mulher), inaugurada em 2001.

E não poderia esquecer de mencionar o maior incentivador do tango pelo mundo, Carlos Gardel (1890-1935). O bairro Abasto, onde fica sua casa, hoje transformada em museu, é a região que abriga um dos maiores shoppings da capital argentina. Lá também é conhecida a Esquina de Gardel, uma casa de espetáculos especializada neste tipo de dança e frequentada por turistas de várias partes do mundo.

E para encerrar nossa viagem na Argentina, não posso me esquecer de Evita Perón. Sua escultura pode ser vista na praça que leva o seu nome, na Avenida del Libertador, no bairro de Recoleta. Curiosamente, a estátua mostra, segundo a guia turística, Evita correndo, como se estivesse fugindo de seu destino trágico - morrer com apenas 33 anos, vitimada por um câncer uterino.

Outro monumento tão interessante e altivo quanto é a Floralis Generica, que fica na Praça das Nações Unidas. Toda feita de aço inoxídável, pesa 23 toneladas e mede 18 metros de altura. Por um sistema elétrico, automaticamente, ela abre todas as manhãs às 8 horas e fecha ao pôr do sol. Segundo o arquiteto que a projetou, Eduardo Catalano, seu nome significa que o monumento pertence à flora e generica, porque representa todas as flores do mundo.

Buenos Aires, apesar de situada na província de mesmo nome, não é a sua capital, mas um distrito federal autônomo. A moeda circulante no país é o peso argentino.


O novo e o velho Paraguai

Depois de quatro dias na Argentina, desembarquei em Assunção, capital do Paraguai. Tudo o que eu imaginava sobre o Paraguai (uma terra onde só se compra mercadorias a preços muito baixos com o real), mudou ao pisar em solo vizinho. É de encher os olhos o vasto chaco, formado por campos planos e vegetação baixa, utilizando em grande parte para criação de gado.

Assunção é uma cidade que está crescendo, mas está longe de ser tão grande quanto São Paulo ou Buenos Aires. Se de um lado vemos prédios novos, mansões, lojas de grifes famosas e indústrias multinacionais investindo no país, por outro a infraestrutura ainda deixa a desejar, principalmente nos meios de transporte, como ônibus e táxis. Ambos circulam em péssimas condições, que é possível ver de longe suas latarias enferrujadas. Um contraste com os carrões importados que transitam pelas ruas pouco conservadas.

E sem contar na fiscalização sanitária. Estive em um supermercado, dentro de um dos maiores shoppings da cidade, e abismado, observei larvas do mosquito da dengue, nadando livremente em vasos de vidro expostos próximos ao caixa. Chamado o "fiscal de loja" o problema foi resolvido, porém, no dia seguinte, lá estavam novas larvas. O mais impressionante foi ver em um telejornal paraguaio a notícia sobre os mais de 100 casos de dengue registrados no país somente no mês de janeiro, com 2 mortes oficiais. É triste saber que a saúde pública paraguaia está vulnerável a qualquer epidemia.

Mas o que mais me encantei foi a simpatia do povo paraguaio (a cada esquina tomando seu tereré - bebida feita de erva-mate, parecida com o nosso chimarrão, mas consumida gelada) e de como eles gostam dos brasileiros. Tanto que é possível ouvir facilmente pagode, sertanejo e MPB no comércio local. E por falar em comércio, roupas de grife, eletrônicos, calçados e tantos outros produtos podem ser comprados pela metade do preço do que seria em real no Brasil. Para se ter uma idéia, um chinelo que no Brasil custaria 10, 12 reais, em Assunção você o encontra por 15.000 guaranis, ou seja, aproximadamente 5 reais. Não é à toa que estrangeiros como chineses, judeus e europeus estão de olho no Paraguai. Mas tem de ficar atento às falsificações e artimanhas de vendedores que empurram mercadorias de baixa qualidade ao cliente mais distraído.

O Paraguai tem tudo para progredir, se houver mudança real na economia para valorizar o guarani, a moeda paraguaia, acabando com a corrupção também existente por lá e o tráfico de drogas. Que se invista em educação de qualidade e melhores condições de saúde. Que venha a modernidade, mas que a cultura do país continue preservada, assim como suas belezas naturais.

O Paraguai é comandado por uma república presidencialista. Os idiomas oficiais são o espanhol e o guarani, a língua indígena da América do Sul.
Fotos: Rafael Lins